Gestora da Fazenda Pulquéria de São Sepé (RS), a jovem Fernanda Costabeber falou sobre a origem da família, ligada ao comércio e como isso interferiu no negócio e no relacionamento com os clientes. “A gente vê que muitos produtores não têm contato com o consumidor final e a gente tem. Para a gente, o negócio é muito natural. Eu sempre digo que minha família veio do comércio, a gente veio da cidade, então tratamos a pecuária como um comércio realmente” conta a produtora. Segundo ela, a medida em que foram estreitando as relações com os clientes, foram percebendo o que eles necessitavam. “A gente foi aprimorando os nossos processos dentro da nossa propriedade. Acabamos virando uma vitrine para isso e acho que é nosso dever também sempre mostrar o melhor da pecuária gaúcha”, falou Fernanda.
Em sua fala, Fernanda Costabeber apresentou o que os clientes consumidores da Pulquéria estão exigindo, falou um pouco dos diferenciais da carne gaúcha e como agregar isso em relação à sustentabilidade. “A gente tem uma baita oportunidade na mão e precisa saber como comunicar isso para o público para agregar valor ao nosso produto”, garantiu, acrescentando ainda que muitas vezes o produtor que produz com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente no Bioma Pampa “paga a conta” de irresponsabilidades realizadas na Amazônia.
O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ladislau Böes, destacou que, assim como produtores, a indústria precisa saber o que fazer para sobreviver diante da baixa demanda de consumo de carne e da perda de poder aquisitivo da população, que afeta diretamente o consumo da proteína. “Eu, que estou no setor há mais de 30 anos, nos últimos dois, tudo que posso fazer é falar do passado, pois não sabemos o que irá acontecer no futuro. Tem sido muito desafiador”, desabafou. O dirigente ressaltou a importância de provocar essa reflexão sobre o que será de toda a cadeia da carne bovina.
Sobre sustentabilidade, Böes disse que o tema é uma preocupação notória desde o campo até a indústria. “Hoje a indústria tem uma grande preocupação com a parte da sustentabilidade principalmente voltada na parte ambiental, afinal, quem não estiver adequado, à legislação, à Fepam e aos órgão de regulamentação como o Ibama, não trabalha”, afirmou. Segundo ele, o consumo de água, reutilização, tratamento da água, e dos efluentes são temas de grande preocupação da indústria. Não fica de fora o uso de energias renováveis. “Hoje, todas as empresas estão no mercado livre comprando energias renováveis, produzindo muitas vezes sua própria energia através de fotovoltaica. Então, a indústria acordou e tem procurado se adequar”, garantiu. Ladislau Böes também citou a sustentabilidade social e econômica. “A indústria frigorífica gera muitos empregos diretos e indiretos. É grande nossa responsabilidade quanto a isso”, complementou.
O gerente executivo da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO), Silvio Balduíno, apresentou a experiência da coordenação da cadeia produtiva ligada ao Programa Carne Orgânica e Sustentável do Pantanal. “O pecuarista, vive hoje, cada dia mais, a pressão da modernidade, com relação à pegada de carbono, a conservação da biodiversidade, a produção em harmonia com tudo isso”, disse o gestor. Segundo ele, o sucesso atingido pelo programa foi em obter o domínio de dentro da porteira, fazer parcerias com a indústria e também com o varejo. “São marcas que acreditaram no nosso modelo de produção e que hoje colocam nossos produtos à disposição do produtor final. Então, o trabalho que a associação tem feito é de manter essa cadeia alinhada, o que não é fácil, são interesses muitas vezes conflituosos, divergentes, mas a gente tem tido sucesso nessa manutenção do alinhamento da cadeia”, frisou.
Já Roberto Grecellé, da Prado Consultoria, levou ao Universo Pecuária a essência de suas recentes viagens pelo Uruguai, França e São Paulo. Ao aliar com seu conhecimento sobre mercados de luxo, da classe média e também sobre a distribuição de carne de baixo valor agregado, o especialista apresentou um cenário que culmina no que deve ser o mercado da carne, daqui para frente. “A forma, a intensidade, a frequência com que nós nos alimentamos e consumimos carne bovina está mudando, e eu não estou dizendo que está aumentando ou que está diminuindo, porque existem vários mercados, mas o fato é que está mudando,” garantiu. Grecellé fez apontamentos e alguns direcionamentos para que produtores rurais e varejistas tenham oportunidade de enxergar o seu negócio dentro desta migração de rota. “Acredito que muito do que está sendo ditado pelo que está acontecendo no consumo de carne no nível global, tem a ver com os hábitos alimentares da população, chamo isso de uma, talvez, mudança de rota alimentar”, concluiu.
Texto: Nestor Tipa Júnior e Ieda Risco/AgroEffective