Maturidade na gestão requer forte cultura de gestão de dados

A informatização dos processos é fundamental para transformar propriedades rurais em empresas rurais

Tecnológica, integrada, analítica e lucrativa. Quatro palavras potentes que descrevem muito bem a atividade pecuária desenvolvida hoje por propriedades nos quatro cantos do Brasil. São fazendas de diferentes portes e modelos de negócios, mas que têm algo em comum: são lideradas por produtores com visão empreendedora e antenados nas rápidas transformações do mundo. Profissionais incansáveis que transformaram a paixão em plano de negócio e estão focados em fazer da pecuária um dos principais drivers de desenvolvimento do país no mercado nacional e internacional.

Aliás, muito do destaque da atividade mundo afora está relacionado aos avanços que aconteceram nos últimos anos, que vão desde novas práticas de manejo, melhoramento genético dos animais, novas tecnologias de nutrição e pastagens até redução de impactos ambientais. O amadorismo fica para trás e o que se vê são profissionais conscientes de que não basta mais apenas produzir, pois é necessário produzir cada vez mais, melhor e de forma sustentável economicamente.

Para isso, a Pecuária 4.0 entra em campo, ou melhor, nas fazendas, promovendo o processo de digitalização que significa, na prática, mudar o modelo de gestão tradicional para uma gestão orientada à informação. Isso acontece quando há um mapeamento e uma organização dos processos da originação à comercialização, com o objetivo de se coletar e conectar todas as informações necessárias para planejar o negócio, definir os indicadores de cada etapa da produção e medir os resultados produtivos e econômicos.

A tecnologia facilita a gestão orientada à informação justamente por integrar todos esses pontos, conectando os animais, os processos, as pessoas e os números do início ao fim. Como resultado, os gestores têm mais poder para controlar tudo com agilidade e segurança, garantindo uma melhor tomada de decisão.

Crédito fotos: GA+Intergado, divulgação

Além de se investir em uma estrutura adequada para a coleta de dados de qualidade, é essencial criar um ambiente onde colaboradores e stakeholders possam usar sua bagagem técnica para transformar os dados em informações úteis na melhoria contínua do negócio. Em linhas gerais, a cultura da informação tem três pilares fundamentais:

1) Coleta de dados bem-feita e confiável;

2) Aderência aos processos; e

3) Análise constante para melhoria contínua, por meio da experiência das pessoas.

O objetivo final é associar a experiência profissional de todos os envolvidos, da operação à gestão, a uma nova cultura de transformar dados em conhecimento.

No Brasil, se tem a percepção equivocada de que o custo da tecnologia é a maior dificuldade para modernização das fazendas. A verdade é que as tecnologias estão cada vez mais acessíveis e o retorno do investimento, quando bem utilizado, é muito rápido. O maior desafio está, efetivamente, no ambiente que a tecnologia encontra para fazer o seu papel. A maior parte dos pecuaristas, mesmo os grandes, não tem um mapeamento adequado dos seus processos, leia-se Procedimentos Operacionais Padrão (POP’s), e, consequentemente, não têm como capacitar a equipe para realizá-los de forma satisfatória. Quando a tecnologia encontra esse tipo de ambiente, ela não opera em todo seu potencial e o retorno do investimento demora um pouco mais. Em muitos casos, implantar um software de gestão que já traz uma arquitetura de processos e rotinas com auditoria de atividades e travas de segurança que acelera a evolução da fazenda. No entanto, sem uma organização correta dos processos internos, torna-se difícil parametrizar o software, prejudicando o desempenho da tecnologia e a melhoria dos resultados da fazenda.

Há cerca de 15 anos, produtores enfrentavam dificuldades para implantar a tecnologia de gestão nas fazendas, pois havia problemas de estrutura, como a falta de acesso à energia elétrica e à internet. Algumas empresas, no entanto, pensando nesses desafios, criaram tecnologias que funcionam online e offline, com sincronização de dados. O tempo foi passando e, de 2020 para cá, os produtores também investiram em infraestrutura. Em razão da pandemia da Covid-19, muitos viram a necessidade de ter acesso às informações de qualquer lugar e de criar mecanismos de controle e acompanhamento da produção tanto presencial quanto à distância, acelerando a digitalização e a profissionalização do campo.

Para se ter uma ideia da escalada tecnológica das fazendas, entre 2019 e 2021 aumentou em 17% a adesão de softwares de gestão e em 234% à automação da nutrição em confinamentos. Isso se deve à grande alta dos insumos, que gerou a necessidade de se ter controle preciso e confiável dos custos de nutrição, que são fortemente afetados pela eficiência dos processos de fabricação e fornecimento de ração. Em estudos realizados com uma base GA+Intergado, verificamos que uma fazenda que produz 10 mil cabeças/ano e que opera a nível de baixa eficiência – em torno de 50% – registra perdas financeiras na ordem de R$ 995.413,82. A automação da nutrição reduz de forma muito significativa essas perdas e, na maioria dos casos, se paga já no primeiro giro.

A maneira mais rápida e eficaz de aumentar a maturidade de gestão é a automatização dos processos, principalmente, os de nutrição, que são responsáveis pelo maior custo de produção. Por isso, 2022 está sendo o ano da eficiência na nutrição e os pecuaristas estão acelerando a implantação desta tecnologia para aproveitarem a perspectiva de aumento na arroba no segundo semestre para buscarem maiores margens de lucro.

Fazendas que operam com alta maturidade de gestão têm investido fortemente nos pilares de processos, infraestrutura, pessoas, tecnologias, liderança e conectividade. Quanto mais equilibrados entre si, maiores as oportunidades de lucro e de sustentabilidade econômica do negócio. Independentemente do número de animais na fazenda, o uso da tecnologia elevará o nível e a qualidade da gestão da propriedade, permitindo um controle rigoroso da fazenda e melhorando os indicadores financeiros.

Fonte: Paulo Dias, zootecnista, fundador de Gestão Agropecuária e CEO da GA + Intergado.

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