Redução da vacina da aftosa divide opiniões

200 milhões de bovinos são vacinados contra a febre aftosa por ano

200 milhões de bovinos são vacinados contra a febre aftosa por ano

Foto: Divulgação

A dose da vacina contra a febre aftosa vai passar a ter 2 mililitros, de acordo com a Instrução Normativa n° 11 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A dose anterior era de 5 mililitros. A redução pode ajudar a evitar reações alérgicas, problema que já foi tema de polêmica por afetar a qualidade da carne. Em contrapartida, a retirada completa da vacina, condição almejada pelo governo, gera preocupação em algumas entidades do agronegócio.

Luiz Alberto Pitta Pinheiro, médico-veterinário e consultor de sanidade animal da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (FARSUL), diz que a entidade apoia a mudança. “A redução da dose da vacina é um assunto debatido há bastante tempo. O Uruguai e Colômbia já usam dessa forma. Basicamente, a intenção é que a redução do volume venha a eliminar os efeitos colaterais”, afirma.

A nova fórmula exclui a saponina, substância apontada como uma das responsáveis pela formação de abscessos na carne. Os nódulos presentes em lotes exportados para os Estados Unidos causaram a suspensão das compras em junho de 2017. Desde então, o assunto é tema de debate. Luiz diz que “a redução da dose foi uma solicitação feita a indústria para tentar minimizar os problemas com as consequências da vacina, mas a eficácia deve continuar a mesma”. Além da saponina, o antígeno C também será retirado da vacina, já que este tipo de doença foi erradicado no continente.

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A redução gradual da vacina também possibilita acesso a novos mercados. O Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA) prevê uma série de ações para tornar o Brasil livre da doença sem vacinação a partir de 2023. Santa Catarina é o único estado do país que tem esse status sanitário. O Paraná, que está passando por auditorias do MAPA, está em busca da certificação. Já a cadeia da pecuária no Rio Grande do Sul debate o tema com mais cautela. O último caso de febre aftosa no estado foi em 2001. O foco teve origem na Argentina, se alastrou pelo Uruguai e entrou em território gaúcho pela fronteira. Muitos atribuem o problema a falta de comunicação da doença entre os países.

A situação era bem diferente da atual, segundo o chefe da divisão de defesa sanitária animal da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio grande do Sul (SEAPI/RS), Marcelo Gocks. Ele diz que há um plano estadual paralelo ao do Ministério da Agricultura para tornar o estado livre da aftosa sem vacinação em menos tempo. “Hoje a situação é bem melhor, há informatização do sistema, melhor plano de contingência e vários outros elementos que evoluíram”, afirma Gocks. Mas ele também diz que é necessário melhorar a intracomunicação entre o setor produtivo e o órgão de fiscalização para que qualquer suspeita seja notificada o quanto antes.

No entanto, quem depende da exportação pede mais precaução. A Associação Brasileira de Angus é a favor da redução da dose, mas contra a retirada da vacina. Para o presidente da entidade, José Pires Weber, o estado não tem estrutura técnica nem financeira para proteção dos bovinos. “O risco de tirar a vacina é muito maior que os problemas causados pela vacinação. Na última vez que retiraram a vacina houve um surto de aftosa e as exportações foram suspensas”, completa.

Weber também diz que não há maiores problemas em vacinar o rebanho. Ele cita o câmbio ruim e a falta de animais para suprir a demanda por carne gourmet como entraves mais importantes para o setor acessar mercados internacionais. O presidente da Associação do angus também ressalta que, se houver um surto de aftosa, quem trabalha com carne de alta qualidade pode ter prejuízo ainda maior. “É um risco. O seguro não é compatível com o angus. Quem trabalha com a raça não teria uma indenização adequada”, completa.

 

Por Júlios Prestes | Canal Rural

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