Você sabe quais são os cuidados com os cascos das vacas leiteiras?

Confira o que diz Alexandre Pedroso, da Cargill Nutrição animal, sobre como ter um rebanho com cascos fortes

Não é só o alimento que sustenta o rebanho. As estruturas físicas não podem ser esquecidas. Saúde ruminal, mastite, adoção de técnicas de nutrição e redução de estresse são muito eficientes e promovem o bem-estar animal. Isso garante produtividade a longo prazo. Mas, por qual motivo a saúde dos cascos é tão importante? Quando e como deve ser feito esse controle?

Saúde dos cascos é tema de entrevista

Foto: Rehagro

Confira a seguir a entrevista com Alexandre Pedroso, engenheiro agrônomo, com doutorado em Ciência Animal e Pastagens, com foco na nutrição e manejo de bovinos leiteiros e Consultor Técnico Nacional do time de Bovinos Leiteiros, com passagem por várias fazendas e, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste. Ele explicou um pouco mais sobre o tema, abordando os principais desafios.

Como podemos dizer que está ligada a saúde do casco das vacas à sua imunidade?

AP: Os problemas de casco afetam duramente as fazendas, e alguns deles são de origem infecciosa. Quanto pior a imunidade da vaca, maior a chance de que ela venha a sofrer mais com essas doenças, pela baixa capacidade de combater a evolução das infecções. Ou seja, imunidade de problemas de casco estão intimamente relacionados.

AP: São várias, de ocorrência ampla nas fazendas. Podemos citar a dermatite interdigital, broca dos cascos, doença da linha branca, laminite, etc.

O ambiente também precisa ser manejado?

AP: Sem dúvidas! A ocorrência e severidade dos problemas de casco são diretamente afetados pelas condições de conforto e higiene das instalações onde são mantidas as vacas. Quanto mais tempo os animais passam em pé e/ou quanto mais umidade no ambiente, maior a incidência desses problemas.

O que é necessário para ter um rebanho com cascos fortes?

AP: Fundamentalmente permitir que as vacas possam deitar pelo maior tempo possível, minimizar o tempo que passam em pé sobre superfícies duras, evitar acúmulo de umidade nos pisos por onde circulam e evitar presença de umidade nos locais onde as vacas deitam. Outro aspecto muito importante é oferecer a elas nutrição adequada, que minimize o risco de acidose ruminal, pois esse distúrbio afeta negativamente a saúde dos cascos, e utilizando aditivos alimentares que promovam o reforço do sistema imune e a saúde dos cascos.

Como os problemas de casco podem influenciar na produtividade das vacas leiteiras?

AP: Vacas com os cascos doentes têm maior dificuldade para se locomover e sentem muita dor ao pisar. Dessa forma vão comer menos, e consequentemente produzir menos leite. Além disso, o combate aos processos infecciosos e inflamatórios associados a esses problemas demandam grande quantidade de nutrientes que deixam de ser direcionados para a reprodução e produção de leite, reduzindo muito o desempenho e eficiência dos animais.

Existe algum tipo de complemento nutricional ou análise nutricional que precisa ser verificada ou introduzida para auxiliar nesse reforço?

AP: É preciso minimizar o risco de acidose ruminal. É muito comum a utilização de dietas chamadas “quentes”, com inclusão elevada de amido. Por um lado, fornecem mais energia para a vaca, e ela teoricamente pode produzir mais leite com essa energia. Mas, por outro lado, impõem um desafio grande à saúde ruminal, pois aumentam muito o risco de ocorrência de acidose, que por sua vez aumenta muito a chance de haver problemas nos cascos. Dessa forma, é preciso pensar nas dietas considerando esses aspectos, focando na manutenção e melhoria da saúde geral das vacas, pois sem saúde os animais não apresentam desempenho eficiente. É preciso considerar a formulação das dietas, monitorando especialmente o teor de amido total e amido degradável no rúmen. E, além disso, avaliar o uso de aditivos que minimizem esse risco de acidose e promovam melhora na saúde, reforçando o sistema imune.

Tem época pra proteger o casco ou é algo que precisa ser feito a todo momento?

AP: O produtor de leite deve pensar na saúde dos cascos durante 365 dias por ano. O impacto dos problemas de casco sobre o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais é muito grande, além do prejuízo do descarte precoce de um animal. A perda direta em leite pode chegar a 30%, mas a perda em eficiência reprodutiva pode ser muito maior, e o custo disso é muito grande para o produtor. Se tiver que descartar animais então, a situação é pior.

Como o produtor em geral vê esta questão? É simples pra eles entenderem que uma saúde boa de cascos pode ser um fator somatório, de ouro, no resultado final do rebanho?

AP: Da forma como eu vejo a questão, pelos números que temos para mostrar, é muito fácil entender que a preocupação com a saúde dos cascos deve ser permanente. Via de regra vejo muitos produtores atentos a isso, adotando programas de prevenção dos problemas, que na verdade é a única forma eficiente de lidar com essa questão. Mas, infelizmente, ainda há fazendas que “correm atrás do prejuízo”. O ideal é pensar preventivamente. O benefício da adoção de práticas de prevenção é muito grande. Conforto, higiene e nutrição adequadas são os aspectos fundamentais.

Porque investir na saúde dos cascos então?

AP: Em primeiro lugar, porque é um investimento muito baixo. Além disso, o impacto positivo da manutenção da saúde dos cascos é imenso. 100% das fazendas eficientes e lucrativas que eu conheço adotam programas preventivos de saúde dos cascos. Têm foco no conforto das vacas, possibilitando a elas o maior tempo possível de descanso e também cuidar permanentemente da higiene das instalações onde as vacas circulam. Ou seja, sala de ordenha, corredores de circulação, piquetes, barracões, etc.

Como o produtor sabe que é o momento certo de começar a nutrir seu rebanho de novilhas para reforço do casco?

AP: Na verdade, não existe momento certo. O manejo nutricional do rebanho, seja das novilhas ou das vacas, sempre deve considerar a manutenção da saúde dos cascos, por todos os motivos citados anteriormente. Foco na formulação correta das dietas e uso de aditivos que ajudem a melhorar a saúde do rebanho.

Fonte Alfapress | Cargill Nutrição animal, com edição de Bianca Sandrine | Lance Rural

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